Em um cenário onde clima, sociedade e governança caminham lado a lado com o mercado financeiro, compreender o poder das finanças sustentáveis deixou de ser opção e tornou-se necessidade. Este artigo explora como o movimento ESG vem moldando decisões de investimento e gerando ganhos concretos.
Número por número, os investimentos ESG dominam as manchetes globais e ganham força no Brasil. Segundo estimativas do Bloomberg Intelligence, os investimentos ESG podem atingir US$ 53 trilhões até 2025, respondendo por mais de um terço dos ativos sob gestão. No mercado nacional, o volume sob gestão em fundos ESG registrou um crescimento de 28% em 2024, alcançando R$ 34 bilhões até maio e mostrando captação líquida de R$ 14,7 bilhões.
O estoque de títulos ESG na B3 também segue em ritmo ascendente. Ao fim de junho de 2025, atingiu R$ 138,16 bilhões, um aumento de 7% em relação ao ano anterior. Dessas emissões, as debêntures representam 88% do total, com destaque para o setor de eletricidade, que responde por 32% das emissões.
Esses números não apenas sinalizam a força do mercado, mas também indicam como demanda por transparência e regulação impulsiona essa trajetória. Empresas médias brasileiras elevaram em 80% sua intenção de investimento ESG em 2024, segundo o International Business Report.
No mundo, grandes corporações já reportam extensivamente dados de sustentabilidade, e instrumentos como títulos de dívida verde, social e de transição ganham espaço. No Brasil, ainda que o mercado esteja em amadurecimento, a criação de uma taxonomia própria para o Brasil emerge como passo fundamental para uniformizar critérios e atrair capital internacional.
Além disso, a proximidade da COP30, sediada no país, amplia a relevância do debate climático e acelera a adoção de práticas de resiliência e adaptação corporativa. Regulações mais rígidas em mercados maduros, que exigem percentuais mínimos em ESG, tendem a ser referência para futuras normas brasileiras.
Os fundos ESG empregam diferentes abordagens para compor suas carteiras. As principais são:
Para classificação como Investimento Sustentável (IS), gestores precisam definir indicadores claros e comprometer-se com relatórios mais precisos e auditáveis. Os principais temas monitorados são:
Dados mostram que 90% dos fundos evitam setores de alto impacto negativo, enquanto mais de 80% excluem empresas com histórico de corrupção e trabalho infantil.
Adotar critérios ESG não é apenas uma opção ética, mas também estratégica. Empresas com baixos scores em sustentabilidade enfrentam barreiras para captar recursos e podem ser excluídas de índices especializados. Por outro lado, aquelas com práticas responsáveis tendem a apresentar menor volatilidade e retorno ajustado ao risco superior ao longo do tempo.
No Brasil, a CVM exigirá a partir de 2026 padrão obrigatório de divulgação sobre eventos climáticos extremos, aumentando a responsabilidade corporativa e criando maior previsibilidade para investidores.
O horizonte para os próximos anos é marcado por inovações e desafios. Entre as cinco principais tendências para 2025, destacam-se:
Ferramentas de automação para coleta e análise de dados ESG ganham espaço, oferecendo insights em tempo real e auxiliando na auditoria de métricas.
Embora o país demonstre avanço, ainda há obstáculos a superar. A falta de padronização global de critérios pode gerar inconsistências na avaliação de ativos, e a narrativa política internacional influenciará o ritmo de captação, especialmente em cenários mais conservadores.
Por outro lado, a resiliência do movimento ESG no Brasil, aliada à construção de normativas domésticas, abre espaço para que investidores vejam no país um mercado promissor. Projetos integrados que aliem impacto social e ambiental, especialmente nas áreas de serviços públicos e infraestrutura verde, devem prosperar.
Em última análise, as finanças sustentáveis consolidam-se não apenas como aliadas do planeta e da sociedade, mas também como vetores de atração de capital estrangeiro e proteção contra riscos sistêmicos. Para investidores, compreender essa dinâmica e alinhar portfólios a critérios ESG passa a ser estratégia indispensável para navegar em um mundo em transformação.
Referências